“Com uma voz sem som descobri nas letras o grito que fala do que vê o coração e do que sente os olhos ante a injustiça, o preconceito, a desigualdade e o medo.” Adriana Kairos
segunda-feira, 16 de março de 2009
Outra brincadeira
Outra brincadeira
O cata-vento gira
Movido pelo sussurro
Das suas palavras travessas
Sopradas aos meus ouvidos
Movimento de rotação
Verbos na roda-gigante
Amar em todas as suas conotações
Viagem no tapete mágico.
Barco de papel molhado, fui.
Naufraguei em ti
Sorrindo
Ressumando-me em ais...
Fui boneca de pano
Decorando sua cama
Fantoche articulado
Pelas linhas do seu destino.
Sina triste
A cigana adivinhou pra mim
Brinquedo de louça, sou
Em suas mãos canalhas
Diverte-se o quanto quer
Quando quer, comigo;
Depois me enfia
Em seu baú de coisas pequenas
Enfado-me
Angustio-me
Mas procuro manter-me serena
Sou feita de louça
Posso quebrar
Suas mãos jamais me restaurariam.
Aguardo sem queixas
Pela próxima vez
Que me sacará de sua caixa
São as únicas mãos que desejo.
O cata-vento gira...
Viagem no tapete mágico...
Barco de papel molhado...
Boneca de pano...
Fantoche articulado...
Mãos canalhas...
As únicas mãos que desejo.
Adriana Kairos
segunda-feira, 9 de março de 2009
Papel de enfeite e fita amassada
Papel de enfeite e fita amassada
Era um tempo que ela queria. Precisava pensar. Estava confusa. Tuas imagens povoavam sua cabeça, pesavam em seu coração cansado. Já não sabia se te amava, se te odiava. Não sabia se te matava ou se te fazia amor. Não enxergava mais as cores da paixão só via as cinzas de um futuro morto. Ela me disse.
Não entendia o que havia acontecido. Terá sido o tempo que os fizera assim? “Papel de enfeite e fita amassada” – um dia me disse. “Coisas que não guardamos; que não ficam juntas por muito tempo. Só o tempo do entusiasmo. Depois se rasga, se esquece e vai pro lixo”.
Ela perdeu-se estando a seu lado e você fugiu tomado à sua mão. Jamais se encontraram de novo.
Ela chorou por muito tempo sozinha, rios de porquês. Não queria que tivesse assim. Não sabia que o tempo lhe faria tão mal. Nunca supôs que você perderia o controle... Nem que correria daquele jeito...
As flores que hoje lhe trago são em nome dela. Que também sofreu com o tempo. Que depois de você também perdeu o controle. Não era mesmo pra ter sido assim. Mas já que foi, então...
Que descansem em paz...
Adriana Kairos
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"Às vezes, tenho a impressão de que escrevo por simples curiosidade intensa. É que ao escrever, eu me dou as mais inesperadas surpresas. É na hora de escrever que muitas vezes fico consciente de coisas, das quais, sendo inconscientes, eu antes não sabia que sabia."
Clarice Lispector