A remetente e o destinatário
Adriana
Kairos
Ele
não sabia o quanto ela havia esperado. E não fazia a menor diferença. As
lembranças, os sonhos, os desejos, a loucura, tudo aquilo era só dela. Só ela
ainda era fiel àquele sentimento, àquela religião que se tornou seu nome e sua
existência. Escreveu-lhe tantas vezes, durante tanto tempo, por tantos anos... Suas
cartas de remetente platônica e destinatário alheio. Nunca as pôde remeter. Não
se enviam palavras sem destino. Alguns destinos se perdem em palavras ao acaso.
"Melhor assim..." disse firme a razão à remetente platônica. Não há
“melhor” assim! - gritou em visível agonia o inconsequente "comboio de
corda" aprisionado ao peito. O corpo, dócil máquina domável, num comando
veemente da Lucidez, passou a fingir tão completamente que chegou a acreditar
que não era nada a dor que aquela pobre alma deveras sente.