“Com uma voz sem som descobri nas letras o grito que fala do que vê o coração e do que sente os olhos ante a injustiça, o preconceito, a desigualdade e o medo.” Adriana Kairos
quarta-feira, 27 de maio de 2009
O quartinho
O quartinho
Ele ainda era o seu amor.
O único que tivera e que em segredo
Ainda desejava.
Traiçoeiro coração
Tem caminhos tortuosos.
Uma curva errada e olha aí a distancia...
Mas só percebemos quando tudo já vai tão longe...
Às vezes não dá pra voltar.
Sem saída, o jeito então é se aventurar;
Por esses novos caminhos
Onde o vento leva as migalhas de pão
Pra nos machucar.
Ferida, quis esquecê-lo.
(ele não a queria mais)
Tentou viver um dia de cada vez.
Não conseguiu.
Fez pra ele, então um quartinho.
Bem arrumadinho lá nos fundos;
Em seu coração.
E tocou a vida.
Mas quando sentia saudades...
Colocava o disco pra tocar,
Ouvia aquela música
E como encanto a porta se abria.
Ali, visitava suas lembranças.
E logo que a música acabava
Enxugava rápido a breve lágrima,
Respirava fundo
E recomeçava.
Trilhando a nova estrada que fez.
E assim passaram-se vinte anos.
O tempo não espera.
Quanto mais distante seguia em seu caminho
Mas constantes eram as visitas
Àquele quartinho.
Enfim um dia
Tomada de uma infinita saudade
E de um arrependimento das coisas
Que deveriam ter sido e não foram...
Tomada de um medo aterrador
E de uma solidão infame...
Colocou aquela música
Repetindo-a várias vezes.
Sentou-se num cantinho do quarto
Não enxugou as lágrimas.
Só chorou.
E chorou muito.
Até que cansou.
E dormiu.
Não mais acordou.
Adriana Kairos
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"Às vezes, tenho a impressão de que escrevo por simples curiosidade intensa. É que ao escrever, eu me dou as mais inesperadas surpresas. É na hora de escrever que muitas vezes fico consciente de coisas, das quais, sendo inconscientes, eu antes não sabia que sabia."
Clarice Lispector
5 comentários:
Aiii que coisa mais linda isso!
[...] Tentou viver um dia de cada vez. Não conseguiu.
Fez pra ele, então um quartinho.
Bem arrumadinho lá nos fundos;
Em seu coração. E tocou a vida.
E como isso é verdadeiro meu Deus!
Qtas vezes fizemos esses "quartinhos" em nossos corações... Eu, por ex., já perdi as contas... hahaha!
Tá lindo Adri... Especialmente lindo!
bjão!
Otimo tambem, parabens :D
Mais uma vez, a hermética poetisa nos transporta para o mundo das incertezas, subjetividade, lembranças, etc...
Parabéns...
Continue nos encantando com suas palavras estruturadas no belo do ser!
OI Adriana,
Muito bom este blog, uma cara diferente e um conteudo intensdo.
sucesso!
Robson Clério.
Ai....ai...ai....
Acho que vou abrir a porta do meu quartinho, para ver o que restou do que deixei lá dentro ....faz tanto tempo que estou tocando minha vida!!!
Acho que não vou encontrar mais nada!!!!
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