“Com uma voz sem som descobri nas letras o grito que fala do que vê o coração e do que sente os olhos ante a injustiça, o preconceito, a desigualdade e o medo.” Adriana Kairos
terça-feira, 29 de setembro de 2009
Retirado
Retirado
Não há mais sonhos
Vontades ou desejos
A muito perambula por essas ruas.
A esperança morreu na última esquina.
A fome passeia
Admirando os arranha-céus
Arrastando um papelão
E a dignidade
Pra descansar seu cansaço
Na saudade fria
Do chão sujo
De uma marquise qualquer.
A sua identidade
Se foi na última chacina
Que o descaso promoveu.
Vaga agora
Uma fome sem alma
De olhar vazio
Que carrega consigo uma bolsinha
Bem escondida
Última lembrança da vida
Devidamente guardada
Protegida da insondável noite fria
Está uma palavra
Num papelzinho amassado
Que resume a sua tristeza
Que lhe faz bater os dentes
No seu inverno sem fogueira, calor ou cobertor:
TERRA.
Ninguém notou que a fome passou
Frio e morreu.
Adriana Kairos
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"Às vezes, tenho a impressão de que escrevo por simples curiosidade intensa. É que ao escrever, eu me dou as mais inesperadas surpresas. É na hora de escrever que muitas vezes fico consciente de coisas, das quais, sendo inconscientes, eu antes não sabia que sabia."
Clarice Lispector
3 comentários:
Profundo e reflexivo e lindo,muito lindo para variar rs, né Adri?!
bjão querida!
"Ninguém notou que a fome passou
Frio e morreu.": que desfecho! Lindo texto! Beijo, Adriana!
estava com saudades de suas palavras!
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