quinta-feira, 9 de junho de 2011

De Superstições e Manias



De Superstições e Manias

Adriana Kairos



Como uma criança tola, aprendi a soprar o tempo sem sequer questioná-lo do porquê de suas pirraças. Alguns dias meu ar se esgota e fico roxa de tanto soprar, contudo, o tempo não passa. Teimoso... Me parece pesado, cansado. Talvez até mesmo de mim.

Nesses dias de tempo cansado, pirraçado, nem meus livros me trazem qualquer repouso. Me sinto aprisionada em mim mesma e escrevo como quem bate a porta do cativeiro angustiada por sair.

Em outros, nem faço esforço. Na verdade, nem me movo que é pra não espantá-lo e implorá-lo, na minha carente paralisia, que fique um pouquinho mais. Que fique um pouquinho mais e me conte mais histórias. Dessas histórias que se trazem de longe, que se trazem de onde só imaginação espantosa pode achar. Mas, mesmo assim quietinha passam as horas...

As horas são crianças mudas brincando de ciranda com o coxo ponteiro bobo do meu relógio. Não param. Não, essas crianças não param. Não param. E foram elas que me ensinaram a soprar o tempo. Como mandinga, como amuleto, por superstição, por brincadeira ou por medo... Aprendi. E sopro... Hoje um pouco mais devagar que ontem. Hoje tenho que soprá-lo assim, bem de leve, quase como uma carícia morna. Como quem sopra dentes-de-leão ou bolhas de sabão... Bem devagar... Devagarzinho... Não sei se faço tudo isso por medo. Às vezes nem sei se quero fazê-lo. Que estranho! A gente vai adquirindo cada mania com o passar do tempo.

"Às vezes, tenho a impressão de que escrevo por simples curiosidade intensa. É que ao escrever, eu me dou as mais inesperadas surpresas. É na hora de escrever que muitas vezes fico consciente de coisas, das quais, sendo inconscientes, eu antes não sabia que sabia."

Clarice Lispector