quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O diário


O diário


Virou mais uma página e assim seguiu, durante toda a sua vida, a virar outras mais. Como se esse movimento estúpido lhe trouxesse algum conforto. Como se esse ato, por desespero ou por encanto, lhe trouxesse um novo recomeçar. Abrir o livro. Lamber a ponta do dedo. Folhear, folhear, escrever, escrever, rasurar, e tornar a folhear. Labuta ou medo de voar? Estava tudo lá caprichosamente escrito à caneta tinteiro, minuciosamente anotado nas folhas cheirosas do seu diário.

Pouco sabia de si mesma, menos ainda do mundo ou de qualquer outra coisa. Só sabia do que ali estava. “Só sei que nada sei”. Sócrates, o mestre, ela declamava. O pouco que conhecia era do virar, pelo avesso, as páginas do seu inseparável diário. Páginas que antes deixara para trás, não muito distante, num momento, agora se tornavam norte, um guia. Seu Xamã de papel. Quando o medo, a tristeza ou a dúvida se lhes infundiam. Dessa forma redescobria vidas, vividas e sentidas, marcadas a cada página do seu “caderno de contar os dias”. Embora, por vezes, acreditar que poderia ter escrito melhor algumas delas, isso não a prendia a essa ou qualquer outra pouca ilusão, tão somente virava as páginas. Só alimentando a ilusão suprema de ser invulnerável enquanto folheia.

Certa vez, virou as páginas e seus olhos, traidores, borraram a tinta. Amassou o papel com a força da impotência do que “não há mais nada a fazer”. Por que chorar? Não as arrancou ou rasgou, apenas virou a página para escrever-se de novo. Para dar e receber nova chance. Carta branca. Folha branca de recomeçar. E de recomeço em recomeço conheceu e foi conhecida no balé das folhas e dos dias, em seu interior. Sua alma mesclou-se ao branco do porvir que nas cores intensas do que foi e na sensível aquarela do que agora é, misturou-se e bailou sob imagens e sons, cheiros e sensações que a caneta, velha companheira, teimava registrar.

E viveu virando páginas. Uma a uma se iam às páginas bailarinas. O movimento estúpido lhe era mesmo essencial. E quando, então, acabaram as folhas brancas do seu inseparável “caderno de contar os dias”, o fechou, carinhosamente, para, sorrindo, sob as asas dos anjos e sob o canto das Musas, tornar a escrever num outro lugar.


Adriana Kairos

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

CONVITE


Isto não é fantástico!? Aí está CLARABÓIA, o meu livro de estréia. Uma coletânea de poesias e mini-contos em que, dentre outros temas, tento retratar o olhar dos marginalizados de uma maneira poética e reflexiva. Chic no “úrtimo”, bem!!!



Ah! E como sou muuuuuuuiiiiito chic. Rsrs Claro que vai rolar lançamento. O evento acontecerá no próximo dia 7 de novembro, das 11h às 16h. Logo ali, no Centro Cultural Euclides da Cunha (ou Biblioteca do Cocotá, para os mais íntimos), no bairro do Cocotá (é claro... rsrs) – Ilha do Governador- RJ.



O endereço é: Praça Danaides s/n° ao lado do Parque Manuel Bandeira próximo as Barcas. Este dia de autógrafos promete! E eu garanto: haverá livros para todos! rsrs Isto não é fantástico!?


Milhões de beijos!!!



Adriana Kairos

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Prefácio de CLARABÓIA


Prefácio


Conheci Adriana K., em uma sala de aula, aluna se preparando para o exame vestibular. De grande curiosidade intelectual e não menor preocupação social, seus textos já àquela época apontavam para um caminho que está concretizado agora: Adriana é uma escritora! E de prosa e de verso!

Sua sensibilidade poética--também presente nos seus contos--está aqui, em Clarabóia, superiormente aguçada. E posta a serviço não de um "mundo caduco" nem de um "mundo futuro". Adriana está, como Drummond, “presa" ao tempo presente, aos homens presentes, à vida presente.

Clarabóia representa um grande e importante passo na caminhada literária de Adriana.
E, sem dúvida, é um belo presente para todos nós.

JJ Coelho

(JJ Coelho é professor [Literatura Portuguesa], mas antes de tudo é um grande amigo e um verdadeiro mestre para mim. A ele todo louvor mesmo!!!)

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

A mi lado




A mi lado


Estar a tu lado
Y no tocarte
Es como morir despacio
Lejo de aqui
Lejo de ti
A mi lado...

Oyendo tu voz
Lejana
Cercandome
Susurrandome
Acordandome la distancia
Inasequible
Que te pones de mi

Mi grito ahogado
Ultimo llanto del alma
Confiesa a ti
¡TE AMO! ¡TE QUIERO!
Pero, no oyes
Y jamás oirás a mis ojos

Moriré despacio
Feliz
Sin embargo contigo
Por siempre...
A mi lado.



Adriana Kairos

"Às vezes, tenho a impressão de que escrevo por simples curiosidade intensa. É que ao escrever, eu me dou as mais inesperadas surpresas. É na hora de escrever que muitas vezes fico consciente de coisas, das quais, sendo inconscientes, eu antes não sabia que sabia."

Clarice Lispector