domingo, 17 de julho de 2011

Alm’inha-minh’alma




Alm’inha-minh’alma

Adriana Kairos





Fui tão seca ao deserto de minh’alma
Beber de tudo o que lá deixei
Eu estava tão sedenta
Que força em mim não tinha
Tão seca
Tão desértica
Como quem pede Coca-cola num bar
Por impulso clamei por ela
- Alm’inha-minh’alma...
Mas dela resposta não vinha.

Pobrezinha...
Era agora tão erma
Tão seca, tão vazia, tão sozinha
Que nem areia nela tinha
O vento seco que por ela passou
A balançou como latinha oca a beira da pista
Não encontrei mais nada
Naquele imenso mundo-de-tinha
Que se tornou a alm’inha-minh’alma...

Justo ela
Tadinha...
Justo ela que tinha tanto
Tanto de tanto ela tinha...
Tinha tesouros, desejos e pecados
Carrossel, balão e fitinha
Tinha sonhos, palavrões e dúvidas
Dedal, carretel e linha
Tinha amores de verdade
E tinha amores de mentira
Canudo, refrigerante e latinha
Ela tinha tanto
Tanto ela tinha
Ah... alm’inha-minh’alma...
Não me refresco mais com o que tinha.

5 comentários:

Unknown disse...

"A alma é aquilo que o corpo recusa."
Gostei do poema.

Beijo.

Joao Antonio Ventura disse...

Se tinha, ainda tem! Adorei a poesia e o teu blog está lindo! Abraços.

Rafaela Dutra disse...

[...] Justo ela tadinha...
Justo ela que tinha tanto
Tanto de tanto ela tinha...
Tinha tesouros, desejos e pecados
Carrossel, balão e fitinha.

Aiiiiiii adri que lindo isso!
Ameiii!
bjo, bjo lindona!

Bruna Amaral disse...

fiquei arrepiada!

Joao Antonio Ventura disse...

Revisitei esta poesia que já tinha esquecido e não pude deixar de repetir: adorei. Abraços.

"Às vezes, tenho a impressão de que escrevo por simples curiosidade intensa. É que ao escrever, eu me dou as mais inesperadas surpresas. É na hora de escrever que muitas vezes fico consciente de coisas, das quais, sendo inconscientes, eu antes não sabia que sabia."

Clarice Lispector