quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Hoje


Hoje

Hoje quero um cigarro
E algo forte pra beber.
Um choro bem tocado na guitarra
Um bom samba nas cordas
De um desafinado violino
Quero os absurdos cubistas
E a melancolia abstrata
De um Kandinsky qualquer.
Tudo diluído em três pedras de gelo
Num copo cheio de alomorfes
Decorado com uma grande rodela verde
De rima ão.

Hoje estou down.

Sob um oceano de pensamentos inóspitos
Quedo-me inerte
Para que não percebam minha presença
E me deixem ficar
Assim...
Paradinho...
Quase sem respirar.

De onde estou
Choro de alegria
Por uma partida de dominó vencida
Por um desconhecido amigo meu
E observo, curioso,
O rato que passou por mim
Miando Chico, apaixonadamente,
À poodle rosa bailarina de axé.

Estou mesmo sem rumo
Sem leme
Sem prumo
Nessa embarcação furada
Que tomei.

Embarquei em algum lugar
Num não sei onde
De um não-lugar
E naufraguei em meu mar de idéias
Tão inúteis
Quanto uma certeza qualquer.
Divagares e utopias
As preparei para um "Novo Mundo".
Thomas Mores se surpreenderia.

Agarrando-me em Rosas e Machados de salvação
Fui dar na mais linda praia
Sem mar que só Dali
Aqui faria.

Viagem noturna
Límpida aurora boreal
Boreando meus delírios
Colorindo meu sorriso ébrio,
Mecânico, cansado;
De se abrir sem reciprocidade
De não ver
De verdade
Aquilo que já vi
No mar das coisas minhas.

Lá vem, de novo, o tédio.

Hoje estou down.






Adriana Kairos

7 comentários:

Unknown disse...

Que sempre que eu estiver down consiga ser tão bom poeta
daqueles que sobre amores partidos
constroem vidas perfeitas
heróis sem guerra
e paraísos deitados sobre letras

Que na imensidão do meu mundo
encontre saídas para meus devaneios
auroras floridas
alvoradas ensolaradas
e sorrisos recíprocos
como os dos poetas
que cartografam minha alma!

Beijo Adriana, esses versos são pra ti.

Gledson Vinícius disse...

Sempre os sentimentos mais fortes tomando em suas mãos a caneta da nossa história... um brinde as desilusões aos desencantos as lágrimas e a morte. Um grande viva as dores dessa vida!

grande abraço minha querida!!!!

Anônimo disse...

Olá, Adriana ! Quero dar-lhe os Parabéns pelo lindo poema postado, pleno de inspiração e coisas da alma. Como diaria Fernando Pessoa, "Tudo vale a pena, se a alma não é pequena...!"
Do confrade,

Ialmar Pio

blohttp://atelierdobonde.blogspot.com/2009/08/trovas-de-ialmar-pio-schneider.htmlg

Unknown disse...

Minha querida Adriana, este poema é muito, mas muito, muito bom!
Aquela estrofe que começa com "Viagem noturna" não tenho medo de te garantir, é antológica.
As Musas te amam, minha filha!
Um bolivariano e emocionado beijo.
JJ

Paulo Rogério disse...

Ainda nos momentos tristes,
a alma do poeta
dá à luz estrelas...
Grande Adriana,
Você transita com grande maestria
o mundo dos versos que constrói a cada dia...

Livraria do Independente disse...

Livraria do Independente

Músicos e escritores autônomos e independentes: disponibilizem seu trabalho ao grande público consumidor!

Visitem a livraria criada especialmente para o profissional independente: livrariadoindependente.org

Artesãos também tem espaço garantido na Livraria do Independente.

Vantagens:
- disponível para todos.
- independente de editoras, gravadoras e selos.
- todos podem divulgar seu trabalho 24h por dia/7 dias por semana/365 dias por ano.
- contato direto entre seu público e você.

Aproveite o que é seu!

Estamos abertos à parcerias. Ajude-nos a divulgar este projeto.

http://livrariadoindependente.org

Marcelo :. disse...

De vez em quando me sinto também assim, down. Acho que por isto me identifiquei tão bem com seus versos...rs

Li sua entrevista no whohub e gostei muito, você demonstrou descontração, simplicidade, determinação e muita alegria no que faz de melhor, expressar-se. Pensei que lendo o que você escreve em seu blog já lhe conhecia um pouco, mas vejo que estava enganado. Parabéns e continue escrevendo e estimulando outros a também percorrer por estes caminhos maravilhosos da leitura.

"Às vezes, tenho a impressão de que escrevo por simples curiosidade intensa. É que ao escrever, eu me dou as mais inesperadas surpresas. É na hora de escrever que muitas vezes fico consciente de coisas, das quais, sendo inconscientes, eu antes não sabia que sabia."

Clarice Lispector