domingo, 15 de fevereiro de 2009

Marcas


Marcas



Tinha aquele sorriso assombrando seus dias. Dia após dia. O seu já não aparecia mais, só seus olhos diziam o que a boca não conseguia. Olhos de saudades, molhados de solidão. E aquele maldito fantasma em seu coração. Lembranças. Não mais dormia tinha medo de sonhar e vê-la de novo. Queria arrancá-la do peito, mas tinha medo da falta que essa dor lhe faria. Vagava...
Certa noite estava sentado no sofá da sala invadida de lágrimas, inundada de tristeza, quando decidiu viajar.
Bebou mares ardentes, coloridos e fugiu... Mesmo lá não conseguia estar longe de seu fantasma; ao contrário, lá sentia que ela poderia ser sua outra vez. E era. Mergulhava em seus braços, deslizava em sua pele, queimava-se com seus beijos. Aquele sorriso agora parecia vivo, real, seu outra vez.
Dançaram por horas, numa valsa quase eterna, silenciosa, suave, celestial. Apenas ao som cadente das batidas de seus corações, do fôlego que teimava em faltar e dos risos que ficavam fáceis quando estavam juntos.
Começou a chorar...
O torpor acabara...
Ela não está mais aqui, e não poderá estar mais.
Nunca mais...
As lembranças ainda o assombraram por alguns longos anos, até que decidiu mais uma vez viajar. Não suportou a distância. Cortou caminhos em si. Vermelhos como o seus olhos e profundos como o seu amor. Nesse caminho, encontrou mais uma vez aquele sorriso, pôde então sorrir também. Ela então o abraçou com suas asas, ele suspirou, fechou os olhos e foi ser feliz outra vez.





Adriana Kairos

2 comentários:

Anônimo disse...

Obrigado por visitar e comentar no QUEM CONTA UM CONTO...

Volte sempre! Conte o seu!

Bjs

Nilson Barcelli disse...

Gostei do teu texto, é belíssimo.
Escreves muito bem e ler-te é muito agradável.
Beijo.

"Às vezes, tenho a impressão de que escrevo por simples curiosidade intensa. É que ao escrever, eu me dou as mais inesperadas surpresas. É na hora de escrever que muitas vezes fico consciente de coisas, das quais, sendo inconscientes, eu antes não sabia que sabia."

Clarice Lispector