sábado, 3 de janeiro de 2009

Faca de dois gumes


Faca de dois gumes


O vento açoitou
O lençol que estava
Sozinho ali,
Naquele varal trêmulo,
Quase esturricado pelo sol.

Veio a brisa
E o beijou ternamente...


O que quer o vento afinal?
E qual a intenção da brisa?

Nem todo açoite mata.
Nem todo beijo é doce.

O vento disse açoitar o lençol
Para lembrá-lo de que não está só
De que logo sairá dali
E voltará ao armário (sua casa)
Que em breve será útil
Outra vez.

Por sua vez
Disse a brisa ao lençol
Com um sorrisinho
Ao canto da boca...
Que o beijou
Para lhe acariciar
A solidão
E que precisava
Sussurrar lhe baixinho
Ao pé do ouvido assim:
“Conforme-se, a vida é assim mesmo...”

Em quem acreditará o lençol?
Até aonde queimou sua razão
Sob o sol?



Adriana Kairos

2 comentários:

leojmelo disse...

"Nem todo açoite mata.
Nem todo beijo é doce."

e como diria o outro poeta, até "água de mais, mata planta".

Continuo por aqui, sondando!

Abs, leo=melo

Nilson Barcelli disse...

Belo poema, gostei.
Bom fim de semana.

"Às vezes, tenho a impressão de que escrevo por simples curiosidade intensa. É que ao escrever, eu me dou as mais inesperadas surpresas. É na hora de escrever que muitas vezes fico consciente de coisas, das quais, sendo inconscientes, eu antes não sabia que sabia."

Clarice Lispector