terça-feira, 9 de dezembro de 2008

A pipa


A pipa

Do alto da laje mais alta do morro
O neguinho magrelo
De pés descalços
E short frouxo
Empina a pipa
Como se empinasse
A própria vida.

Dança com ela um funk
Entre fios de alta tensão.
Tensão...
Só a da dona “Creuza”
“Desce dessa laje moleque!”
“Vem comê!”
“Cualé?!”
O baile ainda não acabou.

Sorriso maior que o rosto,
Perninhas finas e cinzentas de poeira.
O short caindo
Mostra o cofrinho
Puxa o danado
Não pára o “dibico”
“Ah... ‘muleque’!!!”

A pipa leva aos céus os seus sonhos
O vento os sopra aos ouvidos de Deus
Se não tiver muito ocupado
Talvez ouça
O que o neguinho lançou ao azul.
Em cada fitilho da “rabiola” colorida
Pontas de esperança de não sabe o quê.

Quem sabe o neguinho só ria por rir...
Quem sabe seja só do poeta o devaneio...
E que na pipa não haja sonhos
Por isso cortada
Agora “avoada”
Estraçalhou-se nas mãos de outros
Chora neguinho.






Adriana Kairos

Um comentário:

irineu xavier cotrim disse...

li seu perfil- gostei - pretendo trocar figurinhas topas?

"Às vezes, tenho a impressão de que escrevo por simples curiosidade intensa. É que ao escrever, eu me dou as mais inesperadas surpresas. É na hora de escrever que muitas vezes fico consciente de coisas, das quais, sendo inconscientes, eu antes não sabia que sabia."

Clarice Lispector